• Por Fábio Gomes Em conversa interessante com Paulo Braz (Alapini), ele nos diz: “Afoxé é uma palavra de comando... PARE!! é isto, uma oração de força exercida com convicção e ordenamento no culto ou em qualquer lugar que fale essa força...” “Mas não é qualquer pessoa que tem esse axé; que faz esse comando...” Ela representa muita coisa... é a força da palavra: é assim! e assim será”. Diz ainda: “não é uma manifestação carnavalesca de quinta categoria como dizem e até mesmo alguns afoxés sem fundamentos fazem por aí....”. • Pesquisa
Afoxé,
termo em português oriundo da palavra em Ioruba (afose),
Recurso mágico que concede ao usuário o poder da palavra,
poder adquirido concedido através da fala, de tal modo que uma
ordem verbal não poderá ser desobedecida, a mesma força
de realização através da palavra pode ser empregada
nas orações. Esta palavra sofreu distorções
ao ser aportuguesado. Em um material divulgado pela Prefeitura do Recife, encontrei o seguinte, sobre afoxé: “A palavra de origem sudanesa áfohsheih, aparece em virtude da influência do povo sudanês sobre os bantus, utilizada para designar nação e grupos administrados por gonvernador negro. Seria, então, afoxé de África a festa profano-religiosa. O Afoxé além do seu poder ritualístico se tornou, também, uma grande manifestação popular, artística e cultural afro-brasileira, tendo seu início por volta de 1949, a partir de um bloco carnavalesco que tinha o intuito de divulgar o Candomblé, o Filhos de Gandhi, um dos primeiros afoxés da Bahia. grupo formado inicialmente por estivadores do cais de Salvador, que nas suas patuscadas saía pelas ruas pretendendo reverter o estigma que carregavam devido à sua cultura religiosa e reafirmando sua origem afro-descendente, desfilaram no carnaval daquele ano, cantando e dançando sob o símbolo da paz. Pensando sobre as origens dos afoxés, Edson Carneiro vai comentar que “esse estranho cortejo de negros que tocam atabaques e entoam canções em nagô, em louvor das divindades do Candomblé” (1982,p.101) são manifestações mais modestas dos préstitos de negros que se apresentavam nos primeiros carnavais, já sob a república. O autor os identifica também com os antigos cortejos dos Reis de Congo, muito comuns na época da escravidão. De fato, os afoxés são passíveis de serem aproximados tanto dos préstitos (pelo seu cárater de desfile étnico) quanto das congadas, pois segundo Mário de andrade, “os congos são uma dança dramática de origem africana rememorando os costumes da vida tribal. Na sua manifestação mais primitiva e generalizada, não passam de um simples cortejo real, desfilando com danças cantadas” (1977, p. 81). Talvez venha daí a relação com o maracatu (forma de liberdade de expressão nagô em Pernambuco). Os primeiros afoxés, podem ser simplesmente descritos como “Candomblés de rua”. Quase todos os membros dos antigos afoxés se vinculam ao culto, mas precisamente da Nação Kétu (uma ramificação da cultura Nagô) e Efã ou Ijexá (cujo o nome também é dado a cadência marcante da percussão destes afoxé). Seus músicos são os alabês, suas danças reproduzem a dos orixás, seus dirigentes babalorixás ou Iyalorixás (chefes de terreiros que dominam a língua e o culto Yoùbá) e o ritual de cortejo obdecia à disciplina da tradição religiosa. Descrevo agora Antônio Risério, “antes de iniciar o desfile realiza-se, nos afoxés, uma cerimõnia religiosa: o padê, despacho de Exú, entidade mágica (...) Só depois do padê é que o afoxé se entrega aos cantos e danças iniciando sua perigrinação religiosa” (1981, p.56/7). Hoje dificilmente encontraremos afoxés que sigam os preceitos fundamentais, à disciplina e a mensagem fraterna e divina de um autêntico Candomblé. Os afoxés que surgiram a partir do Gandhi, considerado novos afoxés, tanto da Bahia (acrescento quanto de Recife), são acusados de profanar os elementos sagrados, entre eles a batida Ijexá, os cânticos já não são fundamentados (litúrgico de linguagem Yorùbá) ou de louvor aos orixás, as danças são apresentadas com estéticas mais livres e sem significados. * Fábio Gomes – Vice presidente do Afoxé Oyá Alaxé. |